terça-feira, 29 de novembro de 2011

O pensamento de Aristótales

Página da Ética a Nicómano, de Aristóteles, de um manuscrito do séc. XIV. Nesta obra, escrita por Aristóteles em idade já avançada e dedicada a seu filho Nicómano, o filósofo caracteriza a doutrina moral como actividade humana cujo alvo é a virtude.
 "Mestre dos que sabem", assim se lhe refere Dante na Divina Comédia. Com Platão, Aristóteles criou o núcleo propulsionador de toda a filosofia posterior. Mais realista do que o seu professor, Aristóteles percorre todos os caminhos do saber: da biologia à metafísica, da psicologia à retórica, da lógica à política, da ética à poesia. Impossível resumir a fecundidade do seu pensamento em todas as áreas. Apenas algumas ideias. A obra Aristotélica só se integra na cultura filosófica europeia da Idade Média, através dos árabes, no século XIII, quando é conhecida a versão (orientalizada) de Averróis, o seu mais importante comentarista. Depois, S. Tomás de Aquino vai incorporar muitos passos das suas teses no pensamento cristão.
A teoria das causas. O conhecimento é o conhecimento das causas - a causa material (aquilo de que uma coisa é feita), a causa formal (aquilo que faz com que uma coisa seja o que é), a causa eficiente (a que transforma a matéria) e a causa final (o objectivo com que a coisa é feita). Todas pressupõem uma causa primeira, uma causa não causada, o motor imóvel do cosmos, a divindade, que é a realidade suprema, a substância plena que determina o movimento e a unidade do universo. Mas para Aristóteles a divindade não tem a faculdade da criação do mundo, este existe desde sempre. É a filosofia cristã que vai dar à divindade o poder da Criação.
Aristóteles opõe-se, freqüentemente, a Platão e à sua teoria das Ideias. Para o estagirita não é possível pensar uma coisa sem lhe atribuir uma substância, uma quantidade, uma qualidade, uma atividade, uma passividade, uma posição no tempo e no espaço, etc. Há duas espécies de Ser: os verdadeiros, que subsistem por si e os acidentes. Quando se morre, a matéria fica; a forma, o que caracteriza as qualidades particulares das coisas, desaparece. Os objeto sensíveis são constituídos pelo princípio da perfeição (o acto), são enquanto são e pelo princípio da imperfeição (a potência), através do qual se lhes permite a aquisição de novas perfeições. O acto explica a unidade do ser, a potência, a multiplicidade e a mudança.
Aristóteles é o criador da biologia. A sua observação da natureza, sem dispor dos mais elementares meios de investigação (o microscópio, por exemplo), apesar de ter hoje um valor quase só histórico não deixa de ser extraordinária. O que mais o interessava era a natureza viva. A ele se deve a origem da linguagem técnica das ciências e o princípio da sua sistematização e organização. Tudo se move e existe em círculos concêntricos, tendente a um fim. Todas as coisas se separam em função do lugar próprio que ocupam, determinado pela natureza. Enquanto Platão age no plano das ideias, usando só a razão e mal reparando nas transformações da natureza, Aristóteles interessa-se por estas e pelos processos físicos. Não deixando de se apoiar na razão, o filho de Nicómaco usa também os sentidos. Para Platão a realidade é o que pensamos. Para Aristóteles é também o que percepcionamos ou sentimos. O que vemos na natureza - diz Platão - é o reflexo do que existe no mundo das ideias, ou seja, na alma dos homens. Aristóteles dirá: o que está na alma do homem é apenas o reflexo dos objetos da natureza, a razão está vazia enquanto não sentimos nada. Daí a diferença de estilos: Platão é poético, Aristóteles é por menorizado, preferindo porém, o fragmento ao detalhe. Chegaram até nós 47 textos do fundador do Liceu, provavelmente inacabados por serem apontamentos para as lições. Um dos vectores fundamentais do pensamento de Aristóteles é a Lógica, assim chamada posteriormente (ele preferiu sempre a designação de Analítica). A Lógica é a arte de orientar o pensamento nas suas várias direções para impedir o homem de cair no erro. O Organon ficará para sempre um modelo de instrumento científico ao serviço da reflexão. O Estado deve ser uma associação de seres iguais procurando uma existência feliz. O fim último do homem é a felicidade. Esta atinge-se quando o homem realiza, devidamente, as suas tarefas, o seu trabalho, na polis, a cidade. A vida da razão é a virtude. Uma pessoa virtuosa é a que possui a coragem (não a cobardia, não a audácia), a competência (a eficiência), a qualidade mental (a razão) e a nobreza moral (a ética). O verdadeiro homem virtuoso é o que dedica largo espaço à meditação. Mas nem o próprio sábio se pode dedicar, totalmente, à reflexão. O homem é um ser social. O que vive, isoladamente, sempre, ou é um Deus ou uma besta. A razão orienta o ser humano para que este evite o excesso ou o defeito (a coragem - não a cobardia ou a temeridade). O homem deve encontrar o meio-termo, o justo meio; deve viver usando, prudentemente, a riqueza; moderadamente os prazeres e conhecer, corretamente, o que deve temer.
Também na Poética, o contributo ordenador de Aristóteles será definitivo: ele estabelecerá as características e os fins da tragédia. Uma das suas leis sobre ela estender-se-á, por séculos, a todo o teatro: a regra das três unidades, ação, tempo e lugar.
Erros, incorreções, falhas, terá cometido Aristóteles. Alguns são célebres. Na zoologia, por exemplo, considera que o homem tinha oito pares de costelas, não reconhece os ossos do crânio humano (três para o homem, um, circular, para a mulher), supõe que as artérias estão cheias de ar (como, aliás, supunham os médicos gregos), pensa que o homem tem um só pulmão. Não esqueçamos: Aristóteles classificou e descreveu cerca de quinhentas espécies animais, das quais cinquenta terá dissecado - mas nunca dissecou um ser humano.
A grandeza genial da sua obra não pode ser questionada por tão raros erros, frutos da época - mais de 2000 anos antes de nós.


A História de Aristótales


O filósofo, cientista e educador grego Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) nasceu na Macedônia, filho de um médico que atendia pessoalmente ao rei. Quando jovem, seu pai o mandou para Atenas para estudar na Academia de Platão. Platão pressentiu no rapaz de 17 anos de idade um grande desejo de aprender, e Aristóteles ficou na Academia por 20 anos, primeiro como aluno, depois como professor.
Quando Platão morreu, em 348 a.C., Aristóteles deixou Atenas e voltou para a Macedônia. Por sete anos, ele serviu ao rei Felipe da Macedônia como professor particular de seu filho, Alexandre. Ou seja, o maior pensador do mundo antigo tornou-se professor do indivíduo que viria a ser o maior líder militar da Antigüidade, Alexandre, o Grande. Aluno e professor formaram um grande laço de amizade. Em 336 a.C., com a morte do pai, Alexandre tornou-se rei da Macedônia aos 20 anos de idade. Em seguida, partiu para conquistar os grandes impérios do mundo.
Aristóteles voltou à Atenas e fundou sua própria escola, o Liceu, onde deu continuidade ao trabalho de sua vida. Fez observações cuidadosas, colecionou espécies, resumiu e classificou todo o conhecimento existente do mundo físico. Sua abordagem sistemática foi tão influente que mais tarde evoluiu para o método científico básico empregado no mundo ocidental.
As idéias de Aristóteles não se aplicavam somente ao mundo físico. Ele produziu tratados de lógica, considerados sua obra mais importante, bem como tratados de metafísica, física, ética e ciências naturais. Nesse último assunto, foi um dos primeiros cientistas a coletar e classificar sistematicamente espécimes biológicos. Na política, sugeriu que a forma ideal de governo era uma combinação de democracia e monarquia.
Em 323 a.C., Alexandre, o Grande, morreu na Babilônia, aos 33 anos de idade, em decorrência de uma febre. Com a morte de seu protetor, Aristóteles se viu em perigo devido a uma antiga rivalidade entre Atenas e sua terra natal, a Macedônia. Assim, deixou Atenas e foi viver em uma ilha no mar Egeu, onde morreu um ano depois.
Após a morte de Aristóteles, muitos de seus cadernos foram preservados em cavernas próximas à sua casa. Mais tarde, eles foram levados para a grande biblioteca de Alexandria, no Egito. Embora tenham sido usados e valorizados pelos eruditos islâmicos, estas obras foram perdidas ou esquecidas na Europa durante a Idade das Trevas. Depois, foram introduzidas novamente e têm exercido grande influência em todo o pensamento ocidental há muitos séculos.